O setor automóvel atravessa uma fase de transformação estrutural, impulsionada por múltiplas tendências, tais como exigências ambientais, avanços tecnológicos e alterações no perfil de mobilidade dos consumidores. Estas tendências refletem-se nos tipos de veículos em circulação — com o crescimento dos elétricos e híbridos — mas também nos produtos que asseguram o seu desempenho, nomeadamente os lubrificantes e fluidos funcionais de nova geração que originarão novos desafios no fim de vida ao nível da recolha, transporte, armazenamento e tratamento dos resíduos originados. A Sogilub encontra-se atenta às novas tendências do setor automóvel para de uma forma proativa preparar o futuro do SIGOU (Sistema Integrado de Gestão de Óleos Usados).
Para os veículos com motor de combustão, a principal tendência está relacionada com a melhoria da economia de combustível, no sentido de alinhar com as regulações e estratégias de descarbonização em vigor. Para os veículos elétricos, a principal tendência está relacionada com a promoção de eficiência energética para o aumento da autonomia das suas baterias [1].
Em Portugal, o mercado automóvel registou um crescimento de 5,6% em 2024, com mais de 249 mil veículos novos matriculados, dos quais 57,3% utilizam energias alternativas — híbridos, elétricos ou plug-in — sinalizando uma mudança nos padrões de mobilidade. No entanto, os motores de combustão interna continuam a dominar grande parte da frota circulante, especialmente em veículos comerciais, pesados e ligeiros de passageiros fora dos grandes centros urbanos [2].
Este contexto de transição tem implicado que os fabricantes e fornecedores de lubrificantes invistam em produtos que otimizem o consumo de combustível, prolonguem a vida útil dos motores e reduzam as emissões poluentes, contribuindo para uma mobilidade mais eficiente mesmo dentro das tecnologias convencionais.
A eficiência energética dos lubrificantes para veículos a combustão
Mesmo com o aumento da procura por veículos elétricos e híbridos, os automóveis com motores a combustão continuam a representar a maior parte da frota em circulação, especialmente em veículos comerciais ou usados fora das grandes cidades. Deste modo, os lubrificantes tradicionais mantêm um papel essencial no bom funcionamento dos motores e na melhoria do consumo de combustível [2].
Estes lubrificantes têm vindo a evoluir de forma significativa. Atualmente, são formulados para reduzir o atrito interno do motor, o que ajuda a que o motor funcione de forma mais suave e eficiente. Esta redução de esforço contribui, por sua vez, para uma condução mais económica e com menos emissões poluentes [2].
A nível global, os lubrificantes formulados com óleos base dos Grupos II e III estão a ganhar cada vez mais presença, dado o seu melhor desempenho térmico e menor impacto ambiental, o que os torna ideais para responder às exigências de motores modernos e regulamentos mais apertados. Por contraste, os óleos base do Grupo I têm vindo a perder espaço, particularmente na Europa, onde a transição energética e as restrições ambientais têm maior impacto [2].
Em Portugal e na Europa, tem-se verificado uma maior consciencialização por parte dos condutores e das oficinas sobre a importância de escolher o lubrificante mais adequado para cada tipo de veículo. A escolha certa não só contribui para um consumo mais eficiente, como também reduz os custos de manutenção ao longo do tempo [4].
Ao contribuir para motores mais eficientes e menos poluentes, os lubrificantes tradicionais mantêm um papel relevante na transição para uma mobilidade mais sustentável — em linha com os objetivos ambientais da União Europeia, que visam uma redução global de, pelo menos, 55% das emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2030, abrangendo todos os setores da economia, incluindo os transportes [5].
Novos Fluidos para Veículos Eletrificados e Eficiência Energética
Com o avanço da mobilidade elétrica, o setor dos lubrificantes enfrenta um novo conjunto de exigências técnicas. Embora os veículos elétricos não necessitem de lubrificantes para motores de combustão, requerem fluidos especializados ao nível da lubrificação, gestão térmica e componentes materiais/elétricas [1], desempenhando assim um papel crucial na eficiência, segurança e durabilidade dos sistemas,
Um dos principais focos é a gestão térmica das baterias, essencial para manter o desempenho e prevenir o sobreaquecimento durante a operação e o carregamento. Os fluidos utilizados para arrefecimento devem apresentar baixa condutividade elétrica, resistência à oxidação e estabilidade térmica, protegendo simultaneamente contra corrosão e variações extremas de temperatura [1, 6].
Adicionalmente, os sistemas de transmissão de alta voltagem exigem lubrificantes com propriedades dielétricas adequadas, capazes de garantir o isolamento elétrico e minimizar a fricção entre componentes, contribuindo para a eficiência energética global do veículo [1, 7].
Os motores elétricos requerem também novos fluídos lubrificantes que permitam a sua proteção e eficiência energética, aliadas a propriedades de gestão térmica para transferência de calor e arrefecimento, bem como propriedades dielétricas otimizadas e que permitam a compatibilidade material [1].
Nos sistemas de travagem regenerativa, típicos de veículos elétricos, os fluídos de travões devem suportar maiores variações de temperatura e manter a eficácia mesmo em condições de exigência elevada, assegurando uma resposta fiável e segura [7].
Esta nova geração de fluidos, também conhecida como e-fluids, está a ser desenvolvida com ênfase na multifuncionalidade: além de garantir desempenho técnico, devem ser compatíveis com materiais mais leves e sustentáveis usados em componentes elétricos, contribuindo para a performance, segurança e sustentabilidade dos veículos. A sua formulação requer aditivos específicos que evitem perdas de energia e assegurem proteção a longo prazo [8].
A nível de mercado, prevê-se que a procura por estes fluidos cresça significativamente até 2030, sobretudo na Europa e China, acompanhando o ritmo acelerado de adoção de veículos elétricos e híbridos [2].
A necessidade de comunicar de forma mais clara os benefícios ambientais destes fluidos aos consumidores também está a crescer, acompanhando uma tendência geral do setor para alinhar tecnologia e sustentabilidade [9].
Mesmo em veículos elétricos, continua a ser necessária a utilização de lubrificantes e fluidos específicos para a proteção de rolamentos, engrenagens e componentes da transmissão, reforçando a ideia de que estes produtos continuarão a ter um papel relevante na mobilidade futura [10].
Referências:
[1] Meinhardt, S., et.al. (2025). Advancing EV fluid developments with next-generation basestock technology. Argus Media. Lube Magazine N.º 185 February 2025. Disponível em: https://content.yudu.com/web/1vf9k/0A1vfnf/L185February2025/html/index.html?page=26&origin=reader
[2] Guo Harn Hong (2025). Lubricants and base oils in 2025: A blend of uncertainties for year ahead. Argus Media. Lube Magazine N.º 185 February 2025. Disponível em: https://content.yudu.com/web/1vf9k/0A1vfnf/L185February2025/html/index.html?page=26&origin=reader
[3] ACAP (2025). Mercado Automóvel em Portugal com crescimento de 16,4 por cento no último mês de 2024. Disponível em: https://www.acap.pt/pt/noticia/1128/mercado-automovel-em-portugal-com-crescimento-de-164-por-cento-no-ultimo-mes-de-2024
[4] Repsol (2024). Como os lubrificantes beneficiam o meio ambiente. Disponível em: https://lubricants.repsol.com/pt/noticias/como-lubricantes-benefician-medio-ambiente/
[5] Comissão Europeia (2021). Lei Europeia do Clima. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=OJ:L:2021:243:FULL
[6] Q8Oils (2023). Electric vehicles require specialized EV lubricants. Disponível em: https://www.q8oils.com/automotive/ev_lubrication/
[7] Gulf (2023). What oils, lubricants or fluids do electric vehicles use and how can they improve performance? Disponível em: https://www.gulfoilltd.com/blog/electric-vehicle-maintenance
[8] Infineum Insight (2024). Energy efficient e-fluids. Disponível em: Infineum Insight | Energy efficient e-fluids
[9] Shell (2021). How e-fluids and e-greases are supporting the future of EV technology. Disponível em: How e-fluids and e-greases are supporting the future of EV technology | Shell Global
[10] Repsol (2024). Engine and electric vehicle lubricants: are they still necessary?. Disponível em: Engine and electric vehicle lubricants: are they still necessary? | Repsol