Breves – Biolubrificantes e economia circular

Nos últimos anos, com o objetivo de reduzir a utilização de matéria-prima de origem fóssil utilizada na produção de lubrificantes, a indústria tem evoluído no sentido de utilizar óleos de origem vegetal como alternativa. Em termos ambientais, em comparação com os lubrificantes de base mineral, os biolubrificantes têm como vantagem o facto de apresentarem características biodegradáveis e baixo potencial de ecotoxicidade.

Apesar de apenas representar entre 1 e 2% do volume de vendas global de lubrificantes, as previsões apontam para que o segmento dos biolubrificantes continue a crescer nos próximos anos. Em 2021, o mercado de biolubrificantes representou globalmente 1,36 mil milhões de euros (1,4 mil milhões de dólares americanos), projetando-se um crescimento para os 2,37 mil milhões de euros (2,43 mil milhões de dólares americanos) em 2031, segundo a Persistence Market Research (2021).

Entre os óleos vegetais e óleos derivados de sementes mais utilizados na produção de biolubrificantes estão a palma, a canola e o girassol. Outros como o óleo de soja, de coco e de pinhão-manso estão também a ser testados para comprovar a sua viabilidade. De forma a explorar novas oportunidades no contexto circular de aproveitamento de resíduos para a produção de novos produtos, vários estudos foram já realizados (e.g., Soufi et al, 2019; Hussein et al, 2021; Bashiri et al, 2021), nomeadamente à escala laboratorial, para explorar a formulação de biolubrificantes com base em óleos alimentares usados (OAU). Entre outros processos químicos, a síntese de biolubrificantes a partir de OAU pode ser feita através de reações de epoxidação (conversão das duplas ligações de carbono dos óleos em epóxidos) ou transesterificação (reação química entre uma gordura ou óleo com um álcool para formar ésteres e glicerol), seguida de processos de filtração e destilação para obter o produto final.

Dada a relevância deste tema, atualmente está a decorrer um projeto europeu, o “WORLD” (acrónimo de Waste Oils RecycLe and Development), com o objetivo de desenvolver um processo “verde” para permitir a reciclagem de OAU na produção de biolubrificantes. Financiado em 460 mil euros através do Horizonte 2020, este projeto, que terminará em janeiro de 2026, é coordenado pelo Politecnico di Milano (Itália) e conta com a parceria da Universita degli Studi di Sassari (Itália), Find Your Doctor Srl (Itália), Universite du Littoral Côte d’Opale (França), Universidad de Burgos (Espanha) e Gestta Medio Ambiental (Espanha), esta última sendo responsável pela reciclagem de OAU em Espanha.

Numa altura em que os compromissos e os desafios ambientais se impõem de forma tão premente, é essencial garantir a correta gestão de todos os fluxos de resíduos, bem como explorar a oportunidade de criar novos produtos mais sustentáveis, como os biolubrificantes. Adicionalmente, a incorporação de resíduos, como os OAU, na produção destes produtos permite concretizar na prática os objetivos da economia circular.

 

Saiba mais em:

https://www.persistencemarketresearch.com/market-research/biolubricants-market.asp

https://www.sciencedirect.com/topics/agricultural-and-biological-sciences/biolubricants

https://cordis.europa.eu/project/id/873005