O setor dos lubrificantes e dos óleos base tem vindo a enfrentar transformações significativas, impulsionadas por fatores económicos, ambientais e tecnológicos.
Em 2024, o mercado registou sinais mistos de crescimento e retração, característicos da sua dinâmica, ao mesmo tempo, consolidando tendências estruturais com influência no futuro próximo. As projeções para 2025 e para a década seguinte apontam para um cenário dinâmico, onde a sustentabilidade, a inovação e a digitalização assumirão papéis centrais na evolução do setor dos óleos base e lubrificantes.
O desempenho em 2024
O ano de 2024 revelou-se um período de contrastes no mercado dos lubrificantes. A nível europeu, em 2024, o mercado dos lubrificantes industriais registou índices de crescimento, sustentados pela procura em setores estratégicos como o automóvel, a aviação e a maquinaria pesada [1]. A nível nacional, apesar de um desempenho positivo no último trimestre (4º trimestre de 2024), o balanço anual do mercado global nacional de lubrificantes, incluindo os óleos lubrificantes embalados e os óleos afetos a veículos e/ou equipamentos, refletiu uma retração. Em comparação com 2023, o ano de 2024 registou uma quebra de cerca de 3% no mercado global nacional de lubrificantes, com descidas notórias em categorias como os óleos para turbinas e isolantes para transformadores, os óleos para compressores, e os óleos para engrenagens, hidráulicos industriais e amortecedores.
Em Portugal, a evolução trimestral das vendas (consumo) de lubrificantes ao longo de 2024 reflete dinâmicas distintas entre os vários segmentos de lubrificantes (Figura 1). Os óleos para motores de veículos ligeiros apresentaram um crescimento ao longo do ano, assim como os óleos para veículos pesados e os óleos de transmissão automóvel. Por contraste, produtos como os óleos motores T2 e óleos base, evidenciaram oscilações entre os trimestres [2, 3, 4].
Este contexto, marcado por oscilações na procura e desafios operacionais, é representativo das transformações e tendências que têm moldado o mercado nos últimos tempos. As grandes tendências que marcaram o mercado em 2024 confirmaram-se e demonstram sinais de afirmação evidentes para 2025: descarbonização e sustentabilidade, transformação da mobilidade, e a indústria 4.0 e digitalização [5].
Tendências setoriais para 2025 e o futuro a médio prazo – Uma transição em curso
A dinâmica de mercado e tendências registadas em 2024 — marcada por oscilações no consumo e por sinais de transformação estrutural — lançam o mote para o que se espera de 2025: um ano de reafirmação das novas prioridades para o setor dos lubrificantes. Apesar de uma recuperação da produção e estabilização da cadeia logística em 2024, o setor ainda enfrenta um cenário de incertezas quanto ao volume e especialização da procura em 2025, essencialmente devido à eletrificação automóvel e mudanças estruturais nos padrões de consumo [6].
A pressão crescente da regulação ambiental e sustentabilidade, a transição energética no setor da mobilidade e transportes e a digitalização dos processos industriais estão a redefinir o perfil dos produtos de óleos lubrificantes disponíveis no mercado, mas também a forma como são utilizados, monitorizados e geridos ao longo de todo o seu ciclo de vida.
- Sustentabilidade como Pilar de Inovação
A libertação, acidental e/ou intencional, de fluídos lubrificantes no meio ambiente é um tema crítico para a sustentabilidade do setor. Todos os anos, grandes quantidades de lubrificantes chegam ao meio ambiente através de infiltrações nas máquinas, derrames e descarte indevido no seu final de vida. Para minimizar o impacte destes riscos, em linha com as orientações ambientais regulatórias, a indústria tem vindo a desenvolver e adotar lubrificantes ambientalmente aceitáveis (EALs), tecnicamente biodegradáveis, sem potencial bioacumulativo, e com menor grau de toxicidade [5, 7]. Este tipo de lubrificantes é especialmente importante em aplicações próximas a recursos naturais sensíveis.
Deste modo, a sustentabilidade dos produtos de óleos lubrificantes traz desafios ao nível da sua formulação e química aditiva de modo a alinhar com os standards ambientais dos EALs, e com os desafios ao nível da melhoria da performance técnica deste tipo de produtos e adaptação a novas aplicações [5].
- A transformação da Mobilidade
A eletrificação do setor automóvel continua a moldar a natureza da procura de lubrificantes. Embora os veículos elétricos não exijam lubrificação do motor da mesma forma que os veículos de combustão, surgem novas exigências relacionadas com fluidos térmicos, lubrificantes para transmissões dedicadas e eixos eletrificados. Estes fluídos requerem maior estabilidade térmica, condutividade elétrica controlada e elevada durabilidade [5].
Esta tendência está igualmente presente na indústria, onde o investimento em novas unidades de produção de veículos elétricos está a impulsionar a procura por lubrificantes industriais de elevada performance, essenciais em processos como corte de metais, estampagem e arrefecimento. O resultado é uma exigência crescente por soluções sintéticas, premium e tecnologicamente especializadas [5].
Para além da eletrificação, a exploração de combustíveis alternativos como biocombustíveis, hidrogénio e e-fuels traz novos desafios à indústria dos óleos lubrificantes. Cada tipo de combustível apresenta características operacionais diferentes, exigindo lubrificantes adaptados aos desafios em termos de oxidação, limpeza, e diferentes processos de combustão [5].
- Digitalização e Monitorização Inteligente
A digitalização está a tornar-se uma das transformações mais estruturais do setor. A expansão da Indústria 4.0 tem alterado a forma como os lubrificantes são selecionados, utilizados e monitorizados. Tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) e sistemas de manutenção preditiva permitem a gestão de dados e o controlo em tempo real da qualidade do lubrificante e do desempenho dos equipamentos [5].
Esta mudança está a redefinir o papel dos profissionais na cadeia de valor dos óleos lubrificantes, enquanto impulsiona o desenvolvimento de produtos formulados para responder a requisitos digitais e de monitorização inteligente. A tomada de decisão deixa de depender exclusivamente do contacto direto com o produto, passando a ser guiada por dados analíticos [5].
A médio prazo, entre 2025 e 2035, o mercado global de lubrificantes e óleos base deverá continuar a experienciar esta transformação, impulsionada por fatores como a sustentabilidade, a digitalização, a evolução das necessidades industriais e a diversificação das fontes de energia.
A região da Ásia-Pacífico concentra atualmente cerca de metade da capacidade global de produção de óleos base, o que reforça a sua influência crescente na formulação de preços e disponibilidade de oferta mundial. Nesta região, apesar de algum abrandamento ao nível das exportações, ressalta-se o aumento do consumo regional devido à expansão da atividade de manufatura em locais como a Índia [6].
A Europa deverá manter uma trajetória de crescimento robusta no setor de lubrificantes industriais. Segundo a Future Market Insights, o mercado europeu de lubrificantes industriais está projetado para atingir um valor de 4.505 milhões de euros em 2025, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 5,2% até 2035. Este crescimento será impulsionado pela forte performance da indústria transformadora, especialmente nos setores automóvel, aeroespacial e de maquinaria pesada, que dependem de lubrificantes de alta performance para garantir a eficiência e longevidade dos equipamentos. Além disso, a crescente adoção de lubrificantes biodegradáveis e ecológicos, em resposta às políticas ambientais rigorosas da União Europeia, contribuirá para a expansão do mercado [1].
Estes e outros fatores de influência global macroeconómica e política, como as políticas de incentivo à adoção de veículos elétricos, a flutuação nos preços da OPEC+, os conflitos armados entre a Rússia e Ucrânia e no Médio Oriente, concorrem para as dinâmicas de mercado globais a que temos, e continuaremos, a assistir [6]. A promoção da resiliência da cadeia de valor do setor dos óleos lubrificantes deverá continuar uma das principais prioridades estratégicas do setor, de modo a promover a adaptação às dinâmicas que se têm observado nos mercados globais. E onde todos os intervenientes da cadeia, incluindo os consumidores, assumem um papel chave, quer no âmbito da criação de parcerias estratégicas, quer no âmbito da educação para as melhores práticas de atuação na cadeia de acordo com o papel de cada interveniente [8].
Referências:
[1] Future Market Insights (2025). Europe Industrial Lubricants Market Analysis by Product, Base Oil, End-use, and Country: A Forecast from 2025 to 2035. Disponível em: Europe Industrial Lubricants Market Trends 2025-2035
[2] Sogilub (2024). Mercado de óleos lubrificantes novos – 1.º trimestre de 2024. Disponível em: Mercado de óleos lubrificantes novos – 1.º trimestre de 2024 – Sogilub
[3] Sogilub (2024). ). Mercado de óleos lubrificantes novos – 2.º trimestre de 2024. Disponível em: Mercado de óleos lubrificantes novos – 2.º trimestre de 2024 – Sogilub
[4] Sogilub (2024). ). Mercado de óleos lubrificantes novos – 3.º trimestre de 2024. Disponível em: Mercado de óleos lubrificantes novos – 3.º trimestre de 2024 – Sogilub
[5] LubesNGreases (2024). Key Trends in the Lubricants Industry in 2024. Disponível em: Key Trends in the Lubricants Industry in 2024 – Lubes’N’Greases
[6] Guo Harn Hong (Marc) (2025). Lubricants and base oils in 2025: A blend of uncertainties for year ahead. Argus Media. Lube Magazine N.º 185 February 2025. Disponível em: https://content.yudu.com/web/1vf9k/0A1vfnf/L185February2025/html/index.html?page=26&origin=reader
[7] Machinery Lubrificantion (2024). Environmentally Acceptable Lubricants (EALs): A Guide to Safer, Sustainable Machinery Maintenance. Disponível em: Environmentally Acceptable Lubricants (EALs): A Guide to Safer, Sustainable Machinery Maintenance | Machinery Lubrication
[8] Greg’s Petroleum Service (2025). Reflecting on 2024 and Looking Ahead to 2025: Key Trends in Fuels and Lubricants. Disponível em: Reflecting on 2024 and Looking Ahead to 2025: Key Trends in Fuels and Lubricants